segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

memórias literárias - 574 - VERGONHA DOS PAIS

VERGONHA
DOS PAIS
 

 
574
 
Aline conversa com a amiga ao telefone: "Deus me livre, mana, eu nunca serei doceira. Credo! Ficar horas e horas junto ao tacho no fogão, mexendo, mexendo, arrumando, experimentando, misturando, esfriando, cortando, embrulhando! Isso não é vida pra ninguém! Eu quero é me cuidar, não quero o meu rosto cheio de rugas e grosseiro! Já basta a mamãe!" Na cozinha sua mãe enxuga o suor da testa e também uma lágrima que deixou rolar com tristeza. O celular que Aline usava, bem como as suas roupas, a escola onde estudava e onde conheceu a amiga foram conseguidos às custas dos doces que sua mãe honradamente produzia.
 
Carlos chega em casa e mostra a carteira de trabalho assinada. Conseguiu um emprego de técnico de T.I. Sua mãe o elogia, dizendo: "Isso mesmo, meu filho! Não seja um burro como o seu pai. Ele não deu pra nada na vida, virou pedreiro! Que vida sofrida nós levamos! Mas você não vai seguir essa miséria. Parabéns pelo progresso!" Carlos vai para o quarto, construído pelas mãos calejadas do pai. A mãe para a cozinha, com fogão, geladeira, microondas e lavalouças, comprados com o dinheiro honrado de seu marido a quem chamou de burro.
 
José visita o pai. Fazia três anos que ali não aparecia. Foi mostrar-lhe o filho que aniversariava. E falou com o garotinho: "Tá vendo, Júnior? Esse aí é o seu avô. Catador de latinhas e de papelão. Não repare o fedor dele, é assim mesmo. Tive que aguentar isso por muitos anos. Dê um abraço nele, vai!" O pai, aborrecido, nem quis ficar. José morava numa casa boa com garagem, fruto do fedor do pai, das latinhas que catou e do papelão que recoheu ao longo de trinta anos. E agora ouvia tais afrontas de seu filho ingrato...
 
Você tem vergonha de seu pai, por ser ele simples e pobre? Tem vergonha de sua mãe por não ter se cuidado e não ser instruída? Pois deveria envergonhar-se. Foram esses heróis anônimos do mundo, considerados refugo da sociedade, que lhe deram à luz e lhe supriram as necessidades básicas. Quantas vezes papai e mamãe deixaram de comer algo desejado para que você tivesse o leite especial que tomou na infância? Quantas vezes andaram esfarrapados para que você tivesse o tal "tenis de marca" ou "o celular de última geração"? Eles poderiam não ter a instrução que você tem ou a sua cultura, mas tinham algo muito maior: dignidade e amor. Com a dignidade doaram o seu tempo, a sua saúde e o seu suor para sustentá-lo; com o amor que lhe dedicaram compraram comida, roupas, proveram-lhe um teto e estudos. Quem teria que ter vergonha eram eles, por terem um filho tão orgulhoso e mau.
 
Deus, ao escolher um pai humano para o Seu Filho Jesus Cristo, não foi encontrá-lo nos palácios reais ou nas empresas de sucesso. Não foi procurá-lo entre os letrados de Israel, nem entre os que tinham grandes patrimônios. Foi achá-lo numa humilde oficina, coberta de poeira e de farpas de madeira, talvez um tanto bagunçada, sem nada de belo, mas cheia de dignidade e honra. Ele encontrou um carpinteiro de mãos calejadas e de fronte suada. E fez dele o homem mais feliz do mundo, pois deu-lhe a graça de cuidar do Filho de Deus. E Jesus, diferente de você, honrou o pai que teve. Tornou-se também carpinteiro. Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele. (Mc 6:3)
 
Todo pai quer ver em seu filho a realização de seus sonhos de conforto, de prosperidade, de estudos. Certamente que os pais humildes lutam e labutam para dar um futuro melhor do que o que eles tiveram em suas áreas de trabalho. Porém, se os filhos seguirem as suas próprias sendas de sobrevivência, poderão sofrer tanto quanto eles, mas serão honrados e poderão dizer com orgulho: "trabalho como o meu pai  trabalhou"; "ganho o meu pão com a dignidade como a minha mãe o ganhou."
 
Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir. (Ec 5:12)
 
O filho sábio alegra seu pai, mas o homem insensato despreza a sua mãe. (Pv 15:20)
 
Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; (Ef 6:2)
 
Espero que os bons filhos sejam melhores ainda com os seus pais e deles não sintam vergonha. E que os maus se arrependam e busquem honrar os seus pais humildes. Porque no céu só entram os regenerados pela conversão a Cristo, que souberam honrar os seus progenitores e que não desprezaram os calos de suas mãos.
 
Pr. Wagner Antonio de Araújo

04/12/2017

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