quarta-feira, 4 de outubro de 2017

memórias literárias - 535 - CONTRA OU A FAVOR?

CONTRA
OU
A FAVOR?

 
535
 
É muito raro encontrarmos pessoas de opinião íntegra, gente cujo comportamento não se altera com as mudanças temporárias trazidas pelas circunstâncias. Geralmente se é contra alguma coisa até que alguém afague, seja gentil, que apresente algo que altere a sua guarda, a sua defensiva. A sedução é uma constante desde o tempo da serpente e do casal Adão e Eva!
 
Na fé cristã vivemos esta realidade de forma bastante evidente.
 
Somos contra alguma falsa doutrina, estruturamos uma série de argumentos que comprovam a sua falsidade. Mas num belo dia somos surpreendidos com uma coisinha boa aqui, outra ali, coisas boas nas planícies das heresias e dos erros. A nossa guarda cede e passamos a tecer elogios ao que antes condenávamos. Daqui há pouco nos tornamos coniventes com o que considerávamos mal e adeus defensores da sã doutrina....
 
Somos contra a fornicação, o sexo fora do casamento, o namoro com relacionamentos físicos concretizados. Pregamos e apresentamos bases sólidas na Palavra de Deus contra isto e defendemos a família tradicional. Mas num belo dia alguém de nossa casa ou de nossa intimidade fornica e gera uma criança. Aquela contrariedade toda torna-se doce, consideramos que nem é tão importante o casar-se desde que haja amor e respeito. E então a fortaleza de nossa opinião sucumbe ao grito que o sentimento dá junto a muralha de nossa convicção. E já não somos mais contrários aos relacionamentos sem casamento. Tudo era uma questão do quanto isto nos afetava...
 
Somos contra a idolatria. Temos resposta bíblica consistente com relação a esse assunto. Até que um dia um padre bonzinho, dócil, que usa versículos e canta as nossas músicas ocupa a mídia. Ele é mais gentil do que um pastor, é cativante e busca o amor. Então já não temos hostilidade ao vê-lo proclamar a idolatria, a ter imagens de escultura e praticar o sacrifício não cruento da missa. Já não fazemos caso do purgatório, das indulgências ou da salvação pelas obras. Para nós a bondade daquele ministro sobrepuja a convicção que antes esposávamos. E está implantado o ecumenismo interior.
 
Somos contra o carismatismo. Temos postura conservadora. Cremos que o Espírito Santo habita no coração de todo crente desde o dia da conversão e que não há sinais externos indispensáveis para tal realidade, uma vez que o maior deles é o fruto do Espírito, a transformação de vidas. Mas alguém de nosso convívio é tocado por esta chama e passa a praticar os supostos dons de sinais. Ele muda de vida e torna-se mais dedicado. Logo nós nos sentimos vazios e interiormente desejamos o mesmo fogo. Em pouco tempo abrimos mão dos conceitos que tínhamos sob o pretexto de desejar o mesmo poder. E sepultamos qualquer convicção tradicional no túmulo do passado, pois fomos seduzidos pelo empirismo emocional. Nasce um novo carismático.
 
Somos contra a corrupção. Vociferamos contra os políticos que roubam o erário público. Insultamos publicamente as autoridades corruptas. Até que alguém de nossa estima e que nos é próximo torna-se vereador, assessor, deputado, senador, e nos visita com dádivas estatais. Ele sempre foi alguém de nossa confiança e possui recursos que podem nos ajudar. Ele nos dá um cargo para o filho desempregado, uma secretaria para a esposa, uma bolsa de estudos para algum membro da igreja, um terreno onde construir um templo. Aos poucos já não chamamos de corrupção o uso do dinheiro público com finalidades privadas ou religiosas, mas bênçãos públicas que o Senhor nos concede. O pejo já não está presente quando sabemos que a verba veio de obras públicas não realizadas, de eventos que não consumiram todo o recurso, de indicações que tiraram a chance dos verdadeiros profissionais que poderiam ocupar as vagas. E está aí um novo usuário da corrupção.
 
Gosto de ver o Apóstolo Paulo a dizer:
 
Antes, como Deus é fiel, a nossa palavra para convosco não foi sim e não. (2Co 1:18)
 

Paulo, ao ver Pedro agir de forma dúbia, querendo viver como gentio na presença destes, mas como judeu quando os conterrâneos estavam presentes, teve que aguentar o dedo em riste do intransigente colega de apostolado:
 
E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível.
Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão.
E os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação.
Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus? (Gálatas 2.11-14)

Infelizmente a grande questão de opinião não é qual seja ela, mas quanto ela custa. Se foi construída em cima de argumentos sólidos e que satisfaziam a razão pessoal e a fé, se foi feita com a mais pura consciência da verdade e se foi defendida ao longo de toda a vida, por que mudá-la? Ou não éramos convictos ou então nos corrompemos. Daí funciona a frase: "Todo homem tem seu preço; cabe a cada um determinar o seu".

Queira Deus que aqueles que fundamentaram as suas opiniões e comportamentos na solidez das Escrituras Sagradas e que mantiveram-se fiéis às suas interpretações de vida não sucumbam e não se vendam diante das circunstâncias voláteis dos acontecimentos.

Afinal, em Deus temos alguém que é fiel, mas não apenas fiel: alguém que é JUSTO.

Mas o justo viverá da fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. (Hebreus 10.38)

Wagner Antonio de Araújo
04/10/2017

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