quarta-feira, 19 de abril de 2017

memórias literárias - 439 - NUVENS AFOGUEADAS

NUVENS
AFOGUEADAS

439
Hoje, ao regressar da última consulta de minha esposa junto da médica que fará a cesariana  para o nascimento de nosso filho, percorri a Via Dutra e, consequentente, grande parte da Marginal do Rio Tietê. Eram quase seis da tarde. Fazia frio. O céu estava nos últimos lampejos do sol de outono. De repente, na linha do horizonte, uma luz mais do que especial. O sol avermelhou-se e as nuvens, algumas extensas, outras apenas fumaça, cristais de gelo, esparramados pelo céu, transformaram-se na mais linda e preciosa obra de arte. Nenhum artista do mundo poderia pintar um quadro assim! As nuvens pareciam de fogo, vermelhas e claríssimas, outras cor-de-laranja, outras ainda branquinhas, com tonalidades incomparáveis. Não há máquina de fotografia ou tela de pintura que seja capaz de reproduzir essa beleza! Não passaram quinze minutos e o sol se foi. As nuvens, brilhantes e vivas, tornaram-se, de repente, fumaça cinza e neblinas invisíveis no anoitecer deste dia.
 
Lembrei-me do que Deus faz com o coração e a alma humana. Não passamos de pó, poeira cinza, neblina da manhã ou nuvem do anoitecer: sem brilho, sem cor, sem graça. Porém, quando Deus lança sobre nós a Sua luz e graça, a Sua beleza, a Sua vitalidade, a Sua sabedoria, a Sua força de vontade, tornamo-nos iluminados, brilhantes, cheios de vida, de alegria, de entusiasmo, de beleza! O que Deus faz nas nuvens através do sol, faz em nós na Pessoa do Espírito Santo, quando nos convence do pecado, da justiça e do juízo, quando nos faz nascer de novo e implanta em nós a beleza de Cristo. Ah, de velhas fumaças, nuvens tristonhas, tornamo-nos Sua obra de arte na tela da vida, na construção da história! Seres antes desprezíveis tornam-se heróis da fé, tornam-se pais brilhantes, trabalhadores incansáveis, estudantes inteligentes, cidadãos honrados, cristãos genuínos, de contribuição perpétua na edificação de vidas transformadas. Uma geração que conviva com pessoas assim, iluminadas e acesas pela glória de Deus torna-se transformada. Basta ver a história, entre as sociedades que conheceram os grandes heróis da fé.
 
Sem o sol as nuvens de outono não passam de fumaça. Não têm água, não tem nada. Com o sol elas se tornam tufos de algodão encantados e belíssimos. Nós também, sem a graça de Deus, não somos capazes nem de vencer, nem de contribuir, nem de encontrarmos a felicidade e nem de salvarmos a nossa alma. Com a luz de Cristo, entretanto, encontramos perdão dos pecados, ressurreição, vida eterna e, consequentemente, uma vida cheia de graça e valor, entusiasmo no que fazemos, propósitos eternos na construção de nossa biografia e influência no coração dos que conosco convivem. A glória é de Deus, pois é Ele quem opera em nós o querer e o efetuar; assim como a beleza do entardecer de outono é do sol iluminado, que dá às nuvens o brilho e a beleza de sua própria luz.
 
Que tipo de nuvem somos? As que brilham com o Sol da Justiça ou das que perecem no anoitecer da história? Coloquemo-nos debaixo da gloriosa luz de Cristo, que fará de cada um de nós um brilho a mais na coroa da criação divina!
 
Para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo; (Fp 2:15)
 
Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; (Mt 5:14)
 
Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade. (Fp 2:13)
 

Wagner Antonio de Araújo

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