NUVENS
AFOGUEADAS
439
Hoje, ao regressar da
última consulta de minha esposa junto da médica que fará a cesariana para o
nascimento de nosso filho, percorri a Via Dutra e, consequentente, grande parte
da Marginal do Rio Tietê. Eram quase seis da tarde. Fazia frio. O céu estava nos
últimos lampejos do sol de outono. De repente, na linha do horizonte, uma luz
mais do que especial. O sol avermelhou-se e as nuvens, algumas extensas, outras
apenas fumaça, cristais de gelo, esparramados pelo céu, transformaram-se na mais
linda e preciosa obra de arte. Nenhum artista do mundo poderia pintar um quadro
assim! As nuvens pareciam de fogo, vermelhas e claríssimas, outras
cor-de-laranja, outras ainda branquinhas, com tonalidades incomparáveis. Não há
máquina de fotografia ou tela de pintura que seja capaz de reproduzir essa
beleza! Não passaram quinze minutos e o sol se foi. As nuvens, brilhantes e
vivas, tornaram-se, de repente, fumaça cinza e neblinas invisíveis no anoitecer
deste dia.
Lembrei-me do que Deus faz
com o coração e a alma humana. Não passamos de pó, poeira cinza, neblina da
manhã ou nuvem do anoitecer: sem brilho, sem cor, sem graça. Porém, quando Deus
lança sobre nós a Sua luz e graça, a Sua beleza, a Sua vitalidade, a Sua
sabedoria, a Sua força de vontade, tornamo-nos iluminados, brilhantes, cheios de
vida, de alegria, de entusiasmo, de beleza! O que Deus faz nas nuvens através do
sol, faz em nós na Pessoa do Espírito Santo, quando nos convence do pecado, da
justiça e do juízo, quando nos faz nascer de novo e implanta em nós a beleza de
Cristo. Ah, de velhas fumaças, nuvens tristonhas, tornamo-nos Sua obra de arte
na tela da vida, na construção da história! Seres antes desprezíveis tornam-se
heróis da fé, tornam-se pais brilhantes, trabalhadores incansáveis, estudantes
inteligentes, cidadãos honrados, cristãos genuínos, de contribuição perpétua na
edificação de vidas transformadas. Uma geração que conviva com pessoas assim,
iluminadas e acesas pela glória de Deus torna-se transformada. Basta ver a
história, entre as sociedades que conheceram os grandes heróis da
fé.
Sem o sol as nuvens de
outono não passam de fumaça. Não têm água, não tem nada. Com o sol elas se
tornam tufos de algodão encantados e belíssimos. Nós também, sem a graça de
Deus, não somos capazes nem de vencer, nem de contribuir, nem de encontrarmos a
felicidade e nem de salvarmos a nossa alma. Com a luz de Cristo, entretanto,
encontramos perdão dos pecados, ressurreição, vida eterna e, consequentemente,
uma vida cheia de graça e valor, entusiasmo no que fazemos, propósitos eternos
na construção de nossa biografia e influência no coração dos que conosco
convivem. A glória é de Deus, pois é Ele quem opera em nós o querer e o efetuar;
assim como a beleza do entardecer de outono é do sol iluminado, que dá às nuvens
o brilho e a beleza de sua própria luz.
Que tipo de nuvem somos? As
que brilham com o Sol da Justiça ou das que perecem no anoitecer da história?
Coloquemo-nos debaixo da gloriosa luz de Cristo, que fará de cada um de nós um
brilho a mais na coroa da criação divina!
Para que
sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma
geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo;
(Fp 2:15)
Vós sois
a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; (Mt
5:14)
Porque
Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa
vontade. (Fp 2:13)
Wagner
Antonio de Araújo
Nenhum comentário:
Postar um comentário