SAUDADE DOS
E-MAILS
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"Querida, deixa ver se
chegou algum e-mail urgente". E Elaine ria quando eu assim me expressava. Para
ela não havia e-mail urgente, apenas telefonemas. Pois havia. Conversávamos por
e-mail. Amigos estabeleciam listas ou grupos para trocar e-mails. Havia listas
específicas para cada tema: política, religião, oração, viagens, tecnologia. Eu,
ao lado do Pr. Norberto Marquardt e Pr. Airton Evangelista da Costa, constituí
uma primeira lista de comunhão, a COMPARTILHANDO, só para ministros do
evangelho. Depois PONTO DE ENCONTRO, para todos os crentes. Depois PASTORES E
LÍDERES, para esta área específica. O Pr. Norberto criou a DEFESA DA FÉ. E as
listas proliferaram. O sistema e-groups era uma beleza. O Yahoo comprou-o e
destruiu-o. Sobraram apenas restos daquilo que foi a melhor rede de comunicação
do início dos anos dois mil.
Hoje os e-mails tornaram-se
obsoletos, infelizmente. O mundo virtual migrou para o twitter, para o facebook,
para o instragram e, principalmente, para o whatsapp/messenger. Saímos do
computador ou notebook para o smartphone, o celular com internet. As pessoas
hoje vivem conectadas durante todas as horas. As conversas não começam ou
terminam. Dificilmente alguém escreve: "bom dia, fulano, espero que tudo esteja
bem.". As pessoas tornaram-se frias e vão direto ao ponto, sem delongas ou sem
socialização nenhuma: "quero te perguntar"; "você ouviu falar de.."; "você
virá?", como se todos tivéssemos dormido no mesmo quarto, como se estivéssemos
presentes o tempo todo. Além disto não nos satisfazemos mais com escrita;
queremos áudio, queremos ouvir a outra pessoa. E digo que até isso é pouco: hoje
queremos uma prosa com áudio e vídeo, direto com a pessoa do outro lado.
Certamente que todos estes
recursos deveriam nos aproximar, nos solidarizar, nos tornar mais próximos uns
dos outros. Mas não é isso que ocorre. Quanto mais
proximidade tecnológica nas comunicações, maior a distância humana entre as
pessoas! Antes, quando uma carta escrita era a única
alternativa, a recebíamos, cortávamos o envelope com cuidado, retirávamos o
conteúdo, líamos e relíamos o texto, cheirávamos o perfume do papel, olhávamos
para uma foto que acompanhava e tínhamos em mãos um pedaço do coração do outro.
Hoje as comunicações são tão banais, informais e fúteis que, ao final do dia,
deletamos tudo o que foi conversado nos chats, nos whatsapps e nas redes
sociais. Claro, quase nada dalí tem valor que ultrapasse o momento da escrita.
Somos imediatistas e fúteis na maioria dos
relacionamentos.
A tecnologia ainda mantém
os e-mails. Eu sou sócio de inúmeras listas antigas e mantenho-me com as minhas,
com mais de cem mil contatos (a maioria deles deve ter desaparecido, trocado de
endereço). Raramente recebo um e-mail pessoal, de alguém querendo falar comigo,
dirigindo-se com humanidade e com amizade para mim. Geralmente o que recebo são
reenvios de vídeos que já conheço, textos que já se desgastaram de tantas vezes
compartilhados. Confesso que sinto falta das pessoas; hoje tenho contatos frios.
Quando alguém me escreve um e-mail pessoal eu folgo em mim e emociono-me,
dizendo: "ainda há vida num e-mail!". Em cada mil e-mails que recebo (por dia),
900 são meras propagandas enviadas por robôs, nada mais.
Saudade do tempo em que a
comunicação tecnológica era uma ferramenta para unir e compartilhar! Tristeza
por encontrar-me num mundo plástico e sem relações profundas. Que Deus me ajude
a ser ainda alguém que represente para o outro uma esperança de relacionamento
verdadeiro de amizade, amor e consideração!
Um abraço aos humanos que
porventura lerem o meu texto.
Wagner Antonio de
Araújo
meu e-mail: bnovas@uol.com.br
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