sábado, 8 de abril de 2017

memórias literárias - 436 - DO JEITO QUE TE TRATO

DO JEITO
QUE TE
TRATO...


436
 
Carlos chegou do culto muito perturbado. Em um determinado momento o pastor pedira para que os presentes orassem uns pelos outros. Ele estava ao lado da irmã Altina. Veterana na igreja, crente fiel, ela usou estas palavras na hora de interceder por ele: "Senhor, Tu és maravilhoso; eu oro por Carlos e te peço: trate-o da forma como ele Te trata em sua vida cristã. Amém". Ele não gostou da expressão, mas não teve tempo de retrucar, pois o culto seguiu-se.
 
Foi deitar aborrecido e logo adormeceu. Ao acordar, dirigiu-se ao trabalho. Era dia de pagamento. Abriu a sua conta corrente do banco e não constatou nenhum depósito. Estranhou muito. Foi até o departamento pessoal questionar sobre o que havia acontecido. O diretor lhe disse: "Carlos, desculpe-nos, estamos sem recursos neste mês. Assim que tivermos alguma coisa, depositaremos para você." Ficou perplexo e quis exigir os seus direitos. Mas o diretor explicou-lhe que a empresa havia investido em algumas coisas e que neste momento ele não era prioridade. Não houve acordo.
 
Após o trabalho ele foi para casa. Todas noites ele corria. Mas, ao chegar em casa a sua perna travou. Por mais que fizesse massagem e colocasse bálsamos, não havia meio da perna funcionar. Quando ficou tarde, a perna subitamente destravou, mas era tarde para correr naquelas ruas desertas.
 
No dia seguinte, no trabalho, a nomeação para uma comissão importante chegou. Ele, antes cotado para dirigi-la, sequer foi mencionado. Procurou o seu gerente e ralhou com ele, dizendo que já haviam conversado sobre o assunto. O gerente então lhe disse: "Carlos, você tem falhado por alguns dias e não é de confiança para esse trabalho. Sinto muito." Então Carlos lembrou-se de faltas que fizera (e que não tinha ciência do acontecido até há pouco). Entristecido, terminou o dia e foi para casa. Sem recursos e sem promoção, não pôde fazer a festinha de aniversário do seu filho, programada para o sábado. Sua esposa chorou e brigou. Carlos apenas disse que não tinha salário e que fora punido. Sua esposa então falou em separação. Então Carlos teve uma arritmia e caiu desmaiado....
 
E acordou! Sim, tudo era um pesadelo! Olhou no relógio e ainda era o final da noite do domingo. Deitara tão aborrecido que tivera um pesadelo longo! Foi à cozinha tomar um copo de leite morno e pensar em tudo isso.
 
"Trate-o como ele Te trata. É verdade. O que sonhei é o que faço com a obra de Deus. Comprometi-me a priorizar o trabalho do Senhor e só participo do culto à noite quando posso. Não sou lembrado para fazer nada e reclamo; mas como dar-me responsabilidades se não correspondo nem ao básico? Sim, foi isso. E o salário? A empresa não tem dinheiro porque decidiu investir em outras prioridades... Bah! E o que é meu? Sou digno do salário! Sim, assim como Deus é digno da minha fidelidade financeira para com o Seu trabalho e eu sempre encontro um meio de desviar-me de dizimar o que tenho ou deixar de ofertar. Eu sempre tenho uma boa desculpa. Meu Deus, o sonho foi pra mim! Nem correr eu consegui! Claro, se o importante e necessário eu não faço, o supérfluo e o assessório não acontecem. Tenho mais fidelidade nas corridas, nos aniversários e nos compromissos privados do que na obra de Deus, na evangelização, nos cultos e na escola dominical! Eu sou o meu próprio inimigo!"
 
Carlos então ajoelhou-se e orou:
 
"- Senhor, não me trate como eu Te trato, por favor! Eu sou ímpio, infiel, não tenho bondade no coração. Eu me arrependo, Senhor, pois não priorizo a Ti. Por favor, não me pague com a minha própria atitude contigo! Perdão! Perdão por não te tratar bem! Perdão por não ser responsável! Perdão, porque com a falta de meus dízimos e ofertas a igreja e o pastor têm sofrido! Perdão porque recebi dons e talentos e não os ofereço ao Teu trabalho! Perdão porque não tenho assiduidade e nem pontualidade! Senhor, tem misericórdia de mim! Em nome de Jesus, amém."
 
Carlos já não estava mais enfurecido com a oração da irmã Altina. Pelo contrário, iria procurá-la em breve para agradecer a sabedoria que teve, ao apontar os erros sem acusá-lo, despertando a sua consciência...
 
Wagner Antonio de Araújo

08/04/2017

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