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Antes de sair para o
gabinete pastoral (estou no escritório em casa), preciso repartir um sentimento
de tristeza.
- Como estão fulano e
beltrano?
- Estão bem! Congregam na
igreja do pastor tal; agora já tem um galpão para três mil
pessoas...
Pensei: esse dito pastor
profetizou que seria presidente da república; mentiu descaradamente em ditas
profecias com o grupo do g12, era um batista muito carismático e renegou a fé;
apareceu com desvios de dinheiro etc. Mas as pessoas pagam para ouvir um
pilantra. Elas financiam a mentira. Elas não se preocupam com o certo ou o
errado; a fama cobre tudo isso. E estão lá, financiando a megalomania dos
mentirosos.
- Pastor, e a
juventude?
- Perdi quase todos os
jovens. Foram para a igreja tal...
A dita igreja tem um pastor
que prega ser Deus um promíscuo. Ele diz que Jesus cantou a mulher samaritana.
Também prega que Lúcifer estará à mesa no céu, junto com Hitler e com Herodes.
Seu salário tem 3 dígitos em milhares. Mas não importa o que prega, não importa
a sua arrogância; não importa que denigra a imagem de Deus. O povo ama a
mediocridade, o povo paga para ver um famoso ganancioso. O povo financia a
mentira. Deixam as igrejas sérias, bem estruturadas, e correm para os
cercadinhos luxuosos, onde a mídia e a contemporaneidade têm postos permanentes.
E esvaziam as boas igrejas.
- Como vai a família de
Beltrano?
- Estão congregando com o
Apóstolo tal. Continuam a morar no mesmo lugar.
Famílias moram encostadas
na igreja do bairro, séria e bíblica. Até congregaram ali no passado. Mas
abandonaram a pequenina, apontando os múltiplos problemas que se usam para
justificar as decisões esdrúxulas, e partiram para a igreja do apóstolo. Ah,
essa não tem problemas. O mentiroso que a administra ganhou o título de um
político religioso. Recebeu verba do governo para comprar o terreno, para
levantar o galpão e cede o púlpito para as campanhas políticas. Essa família
roda oito quilômetros para chegar à igreja, onde, além de entregarem o dízimo,
pagam para cantar no coro, para participar do ministério infantil e fazem os
propósitos impostos sem dó e nem trégua. Mas essa igreja é boa. A do bairro, do
lado de casa, com uma comunidade solidária e muito, muito serviço para todo
mundo trabalhar, não presta. Levaram embora os recursos que, por pequenos que
fossem, auxiliavam muito na realização do trabalho de Deus do
local.
Esse mundozinho é realmente
uma piada.
E as pequenas igrejas de
bairro, coitadas, continuam tendo como maior inimigo não o mundo e o diabo, mas
os próprios companheiros de guerra. Grandes igrejas da contemporaneidade (com
exceções, é claro), costumam crescer com os membros das igrejas pequenas e de
bairros. Não pedem transferência, não dão satisfação e nem sentem qualquer drama
de consciência em apossar-se dos servos que militam na mesma obra nos bairros
distantes. Seu desejo é crescer, crescer e crescer, custe o que custar. E as não
famosas, periféricas ou pequenas, vão sendo desprovidas dia após dia de gente,
de recursos, de crianças, de dons, talentos e vocações. Pobres
igrejas.
Que Deus tenha piedade de
nós, míseros pastores de periferia, que servem dia e noite sem parar, com poucos
membros e muita coragem, buscando servir ao Senhor com o nosso melhor. Sabemos
que muitos que conosco congregam e são edificados partirão, sem olhar para trás,
buscando uma grande igreja onde depositar seus filhos e passar momentos de lazer
e de shoping (muitas igrejas tornaram-se mercados de tudo quanto é coisa).
Lembro-me bem de uma família que pudemos ajudar. Quando equilibraram-se,
foram-se embora, dizendo que nossa pequenina Boas Novas não tinha nível para
eles...
Envio um abraço aos meus
irmãos que assim também sofrem. E lhes digo: não esmoreçam. Continuem onde o
Senhor os semeou, sem olhar tamanho, dificuldade ou ingratidão (uma constante
desde o tempo de Jesus, e muito antes, desde Adão e Eva). Em tempo apropriado
ceifaremos e receberemos de Deus a recompensa no céu. Que não esperemos dos
homens, pois não virá. E que continuemos a trabalhar com alegria no Senhor,
razão de nosso ministério.
Não
temais, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino. (Lc
12:32)
Portanto,
meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do
Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor (1Co
15:58)
Conheço
as tuas obras; eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode
fechar; tendo pouca força, guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome.
(Ap 3:8)
E por
isso, se o faço de boa mente, terei prêmio; mas, se de má vontade, apenas uma
dispensação me é confiada. (1Co 9:17)
Pastor Wagner Antonio de
Araújo
pastor de uma igreja de 25
membros,
na periferia de
Carapicuíba, à beira de um córrego,
que roda 60 quilômetros em
cada ida e vinda.
Meu amado e querido pastorWagner, também sinto-me triste com essa situação. Mas regozijo-me por encontrar homens valorosos e fiéis ao Senhor da Seara como o irmão. Estamos no mesmo barco.
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