CONVERSÃO DE FAMOSOS
399
Saí perplexo de casa. Uma notícia inusitada: um diretor
brasileiro de filmes de terror apareceu sóbrio num culto supostamente
evangélico. Algumas fotos dele em contrição e depois ao lado dos “pastores”,
como um troféu para o ministério deles e a glória da denominação onde
servem.
Para quem não é evangélico qualquer denominação que não
for católica ou espírita é evangélica. Para quem o é, as diferenças são
suficientemente grandes para se distinguir entre verdadeiras e falsas. Uma seita
que não crê em inferno, nem no sacrifício completo de Cristo pelo pecador,
devendo o crente seguir pelo caminho dos complementos (guardar o sábado, não
comer carne de porco, observar ritos desnecessários oriundos do judaísmo), não
pode ser considerada uma boa igreja. Mas, para a mídia sensacionalista, o famoso “virou evangélico” .
Será mesmo? Vejamos.
A conversão de um famoso começa pela mudança de
paradigma: deixar de ser famoso, deixar de cultuar a si mesmo, à sua própria
imagem, deixar de fazer de sua vida um acontecimento e um dia-a-dia de
celebridade. No caso desta notícia que recebi (e em todos os demais que conheço)
a suposta conversão vem acompanhada de auditórios, lágrimas fotografadas,
pastores que ganham projeção, batismos mirabolantes e uma identificação com o
grupo aderente. Podemos citar aqui três dezenas de famosos que isto fizeram. Um
era um cômico, tornou-se pastor pentecostal e agora voltou a ser cômico. O outro
era cantor da jovem guarda, tornou-se evangélico e voltou para os bares. A outra
era dançarina, tornou-se gospel e foi filmar uma produção de pornografia. A
outra fez-se evangélica, ajuntou-se com uma mulher e tornou-se lésbica. O outro
fez festa no “apê” e dirigiu louvores numa igreja. O outro gravou toda a bíblia
em áudio, tornou-se membro de seita e depois gravou áudios para o catolicismo.
Conversão não é isso. Para um famoso converter-se deve
haver transformação de vida, não de agenda ou de bandeira. Já disse o filho
desse diretor supostamente convertido que a nova fé não irá atrapalhar os novos
filmes de terror. Que bonito! Assim também aquela dançarina nordestina não
abandona os trios elétricos no carnaval, mas diz que a fé não lhe afeta a
alegria. Claro, não são convertidos; são meramente aderentes de grupos.
Conversão que não converte é golpe publicitário, não
transformação!
Quando um famoso se converte de verdade a Cristo, terá da
mídia um profundo desprezo. A mídia adora a polêmica, adora as religiões gospel,
mas detesta qualquer artista que muda de vida, que tem a moral transformada, que
se arrepende dos pecados e que abandona o glamour das páginas das celebridades.
A mídia o rejeitará e o esquecerá. E, quando um famoso aceita ser destratado,
ser esquecido em nome da fé cristã, então os sintomas de uma autêntica conversão
podem estar presentes. Mas quando o famoso transforma o culto que presta, o
dízimo que dá, o batismo ao qual se submete e o pastor que lhe prega em notícia,
em fuxico, em fotos para suas redes sociais, não converteu-se; apenas gerou um
fato para projetar-se diante da mídia e tornar-se mais famoso e mais comentado.
Venderá muitos DVDs, venderá downloads de músicas e testemunho, aglutinará muita
publicidade na internet, assinará muitos contratos, cobrará e ganhará muito
dinheiro dando testemunho nas igrejas incautas e sairá do vermelho
financeiro.
Dias atrás um comentarista de futebol afirmou ser adepto
de Lúcifer. Gerou grande repercussão na mídia, principalmente evangélica. Ao
mesmo tempo, arrumou uma relação com a cantora louca que se diz pastora, e,
quase ao mesmo tempo, agendou-se em testemunho nos principais púlpitos
pentecostais do Sudeste, dando um testemunho de “transformação de satanista em
cristão!” Tais testemunhos não são
grátis: custam bem caro: dependendo da repercussão, podem valer 20, 40 ou até 60
mil reais. Teria essa dupla explosiva testemunhado de graça nessas igrejas
famosas? Desafio quem afirmar que sim. Lembro-me do cômico que virou pastor lá
no estado do Espírito Santo. Cobrava um dinheiro alto das igrejas onde ia dar o
seu testemunho. Lembro-me da ex-lésbica na assembléia de Deus, reunindo grandes
multidões para escutar os podres de sua moral. Cobrava, vendia DVDs e fazia
fortuna. Depois caiu de novo no pecado. Disse ter se recuperado e faturou com um
novo testemunho. Após ficar rica e famosa renegou a fé e casou-se com uma
cantora gospel, fundando uma seita pentecostal para lésbicas. Eu gostaria de
saber o que os pobres membros das igrejas onde essa mulher testemunhou acharam
disso. Quanto dinheiro jogado fora, presenteado aos pilantras que enganam os
incautos! Testemunho de conversão não é show, é vergonha dos dias passados e
convite à nova vida!
Para terminar: uma mãe de santo poderosíssima foi ao
culto onde eu pregava. Ao fazer o apelo ela foi à frente. Eu não sabia quem ela
era. Fui visitá-la. Descobri que era respeitada pelo espiritismo africano. Era
procurada pelos políticos. Acendia pólvora na mão. Ela converteu-se. Foi
batizada. Tornou-se membro da igreja. Eu queria que ela desse testemunho, ela
não queria. Um dia, agora na atual igreja que pastoreio, consegui trazê-la. Ela,
sem graça, testemunhou alguma coisa da velha vida. E disse: “quando nos
convertemos a nossa vida muda e passamos a ter vergonha do que fazíamos. Não
tenho prazer em dar detalhes da vida demoníaca que eu levava; quero focalizar o
que Cristo fez em minha vida e o quanto eu O amo, e isto sim é importante para
mim!” Sem prazer em falar da velha vida, falou da nova e foi usada por Deus para
trazer outras pessoas ao Senhor.
Celebridades se convertem? Sim, mas deixam de ser
celebridades e se tornam serviçais do Senhor, ainda que tenham que pagar por um
anonimato imposto ou optado. Perdem tudo porque já ganharam o principal: a
salvação em Cristo! E quem tem Jesus não precisa ser celebridade; só precisa ser
servo!
Aleluia!
Pr. Wagner Antonio de
Araújo
31 de janeiro de 2017